quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Biosfera

Sou um bicho do mato, acuado, desconfiado, arredio ao contato.
Ando sorrateiro, me desviando dos gravetos que facilmente se quebram, inúteis obstáculos, para não fazer barulho e passar despercebido.
Não quero ter presa, não quero ser presa, não quero ter pressa.
Às vezes, me vejo paralisado, enclausurado, encasulado, esperando o momento de sair incólume, irreconhecível, distraindo com minha aparência externa, àqueles que apenas a isso querem enxergar e nada mais.
Sou um animal marinho, calado, sozinho.
Fujo assustado, em disparada diante do inevitável, do remoto, da repetição.
Sou um molusco, ápode, atado, carregando minha casa, na qual me amparo ante rotinas e contradições.
Tenho minha ostra, sem pérola, sem nada, casa vazia, só eu e minhas quinquilharias, algumas com sentido, lembranças e saudades, outras somente pra compor o espaço, abafar o eco do meu reduto, meu mundo, meu quarto.
Dentro de mim, às vezes grito, às vezes calo. Espaço seguro.

2 comentários:

[Moço'] disse...

Caramba Senhorita (por pouco tempo)
suas palavras mexeram profundamente comigo...
Isso é realmente uma SENSIVEL demonstração de que você é amplamente sensivel, e logicamente racional ao teorizar isso.

Nunca ouvi um auto-retrato tao lindo...

André disse...

Passei aqui. Bom texto.