Ouvi uma vez que existem substâncias que quanto mais puras, mais letais são, porque o corpo não suporta a intesidade de seu estado puro; ele sucumbe. Me pus a pensar que, raramente, suportamos algo em estado puro, aprendemos a nos contentar com impurezas.
Nos dizem que, por exemplo, que temos que ser felizes e que não seremos felizes sem alguém.
E vamos nos adequando, de maneira inadequada, sem nenhuma pretensão maior que o desejo de sermos felizes, simplesmente porque escutamos, porque aprendemos a identificar comportamentos que nos disseram ser manifestações de um sentimento bom e necessário para a tal felicidade, aprendemos a não perdoar quem não demonstra tais afetos nos moldes assim definidos. Aprendemos a esperar o amor, nos apaixonando, como condição e prerrogativa.
Nós, na verdade, não. Nunca me apaixonei, e não sendo eu um padrão para muitas coisas, criei paixões para mim, acreditei nelas, mas, inadequava-me também, na maioria das ocasiões.
Sim! Aprendemos a fingir paixões para nos adequarmos...
Porém, quando o sentimento em nós está para além das convenções, uma calmaria aqui no peito serve de bússola indicando que o caminho é esse mesmo, ainda que o tempo feche.
Vejo a paixão como um sentimento caprichoso e egoísta, cheio de impurezas com o qual as pessoas se contentam, na busca de algo que traga um sentido para suas vidas, disfarçado da tal felicidade. Há quem perca a graça da vida sem se apaixonar, há quem viva de paixões como necessidade, forma de se manter vivo, esquecendo-se de si e do outro, ainda que pareça o contrário.
A paixão existe para a gente não sucumbir. Não aprendemos a amar e a aceitar o amor, em estado puro, etéreo, desmaterializado, despersonificado.
O amor em estado puro, mais que aproximar os corpos, afasta, pois não é pálpavel. Amar é aceitar mais a hora da partida que da chegada. Às vezes, é tanto amor que o corpo não aguenta e na sua ausência, o amor se faz presente.
É muito sentido, pouco corpo, poucas palavras. Não dá mais!
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