Hoje, enquanto tomava meu cafézinho, me lembrei do meu avô. Café com rapadura. Amo!
Convivi pouco com meu avô, consequências de decisões dos adultos de vida amarga, que afastam as crianças das coisas doces da vida.
Mas, lembranças os adultos não controlam, e elas emergem através de falas, juntamente com a fumaça do café, o cheiro da rapadura.
Meu avô era um homem calado, olhos azuis doloridos: pela vida e de tão lindos!
Distante, tinha em seu quartinho de bagunça o fetiche de todos os netos. Éramos proibidos de entrar! No máximo, até a porta! Assim era ele também, só chegávamos até onde ele deixava.
Sei que na vida, as estratégias é que dão o tom, e por um pouco do afeto do outro, a gente faz muitas coisas. Sei que consegui atrair meu avô para perto de mim: o fisguei com rapadura!
Ele amava rapadura e desde muito nova descobri meu gosto por doces, em especial, a tal da rapadura.
Era um ritual: canivete em uma mão, rapadura na outra, nós dois, sentados no chão. Lascas e mais lascas divididas comigo, ali em silêncio, eu fazendo parte daquele momento, onde meu avô parava para algo doce.
Até que eu cresci, a gente se afastou, e um dia ele se foi... por ironia, morreu numa Páscoa, cheia de chocolates.
Na época, sem muito gosto, mas, hoje, meio azedo, meio amargo.
Nunca mais teve rapadura na minha avó, o quartinho foi desfeito. Ele levou os olhos azuis, o silêncio ficou.
2 comentários:
Decidamente, as palavras mais singelas e fortes que eu pude ler em tempos de conceitos e leituras...
Ontem e hoje "comi" rapadura, sim, comi porque nunca tentei saboreá-la... não no café, estou em processo de abstinência, mas após o almoço. Adoro rapadura e adoro as coisas doces da vida, como a senhora Kiwi relatou. Não me lembro do meu avô, morreu muito cedo, uma pena. Sinto que tenho muito dele em mim, gosto de doce, do doce que a vida traz e de fazer as coisas amargas transformarem em doces... Amanhã tentarei fazer da rapadura algo para ser saboreado...
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